Problemas do nosso movimento

1. A opressão básica que lésbicas sofrem não é proveniente das LEIS, mas ao fato da sociedade patriarcal ser o completo oposto do lesbianismo. A sociedade patriarcal vê as mulheres como objetos que existem para o seu prazer. Lesbianismo é a prática de mulheres existindo para si mesmas e umas para as outras.

2. Não há forma alguma de reformas ou combinações de reformas mudarem a natureza básica dessa sociedade. Reformas são simplesmente mudanças na maneira como um grupo pequeno de homens brancos dominarão, mas não mudam o fato que eles dominam.

3. Reformas geralmente são voltadas contra nós porque nós não as controlamos. Por exemplo, reformas ligadas ao acesso ao aborto foram utilizadas para forçarem mulheres pobres a abortarem contra a sua vontade. (Isso não quer dizer que mulheres que lutaram pelo acesso ao aborto não se opusessem ativamente à esterilização e ao aborto forçados.)

4. Pelas razões listadas acima (que lésbicas são oprimidas pela própria natureza da sociedade patriarcal), lésbicas acabam lutando por reformas que não estão diretamente ligadas às nossas vidas.

5. Muitas das mulheres que lutam por algum tipo de reforma são desonestas com as pessoas que estão tentando “organizar politicamente”, já que estão cientes de todas as coisas descritas acima mas não as reconhecem e assumem para as pessoas. Assim, elas fomentam cinismo entre todas em relação a qualquer ação política.

“Problemas do nosso movimento”, da antologia separatista “For Lesbians Only”, por Alice, Gordon, Debbie e Mary, 1973

O pensamento heterossexual, de Monique Wittig

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“Lésbica” é o único conceito que conheço que existe para além das categorias de sexo (mulher e homem), pois o sujeito designado (lésbica) não é uma mulher nem economicamente, nem politicamente, nem ideologicamente. O que constitui uma mulher é uma relação social específica com um homem, uma relação que chamamos servidão, uma relação que implica obrigações pessoais e físicas, e também econômicas (“atribuição de residência”, trabalhos domésticos, deveres conjugais, produção ilimitada de filhos, etc.), uma relação da qual as lésbicas escapam quando rechaçam se tornarem ou continuarem sendo heterossexuais. Somos desertoras da nossa classe (…).

Lesbianismo: um ato de resistência, por Cheryl Clarke

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Ser lésbica em uma cultura tão supremacista-machista, capitalista, misógina, racista, homofóbica e imperialista como a dos Estados Unidos é um ato de resistência – uma resistência que deve ser acolhida através do mundo por
todas as forças progressistas. Não importa como uma mulher viva seu lesbianismo – no armário, na legislatura ou na câmara. Ela se rebelou contra sua prostituição ao amo escravista, que corresponde à fêmea heterossexual que
depende do homem. Essa rebelião é um negócio perigoso no patriarcado. Os homens de todos os níveis privilegiados, de todas as classes e cores possuem o poder de atuar legal, moral e/ou violentamente quando não podem colonizar as
mulheres, quando não podem limitar nossas prerrogativas sexuais, produtivas, reprodutivas, e nossas energias. A lésbica – essa mulher que “tomou uma mulher como amante” – logrou resistir o imperialismo do amo nessa esfera de sua vida. A lésbica descolonizou seu corpo. Ela rechaçou uma vida de servidão que está implícita nas relações heterosexistas-heterossexuais ocidentais e aceitou o potencial da mutualidade de uma relação lésbica – não obstante os papéis.