quem somos

um grupo de sapatonas autônomas do interior paulista buscando a construção do primeiro Encontro Paulista de Lesbofeminismo.

desejamos nos articular politicamente com outras lesbofeministas e sapas autônomas do estado de SP.

pela destruição da heterossexualidade, do capitalismo, do racismo e do especismo!

vem colar com a gente!


Manifesto Político do I Encontro Paulista de Lesbofeminismo

Somos lésbicas autônomas do estado de São Paulo que nos reinvindicamos como lesbofeministas em contato e constante reflexão sobre o que nos afeta e nos une dentro da América Latina. Nos comprometemos com uma análise política lesbocentrada e lesboidentificada e resgatamos nosso pertencimento ao movimento feminista, no qual lésbicas sempre estiveram na linha de frente. Também nos declaramos autônomas, já que a dominação masculina e heterossexual perpassa todas as instituições da sociedade civil, sejam elas estatais ou privadas, buscando assegurar, assim, nossa liberdade de pensamento e práxis, econtribuir para a construção de novas propostas civilizatórias.

Em celebração e memória aos Encontros Lésbico-Feministas de Abya Yala, decidimos construir coletivamente um espaço de reflexão e articulação acerca dos paradigmas fundamentais sobre os quais se estruturam nossas lutas na contemporaneidade e em nossos territórios, atualmente marcados pelo avanço neoliberal atroz. Sabemos das constantes dificuldades de existir enquanto lésbicas racializadas e radicais e entendemos como crucial a união e a articulação entre todas nós a nível estadual, nacional e continental. Por estas razões, convidamos as lesbofeministas de todo o estado de São Paulo para confabularem conosco ao longo de três dias sobre diversas pautas que consideramos centrais para ampliação e aprofundamento das nossas lutas.

O I Encontro Paulista de Lesbofeminismo (I EPL) ocorrerá entre os dias 12 e 14 de outubro de 2018 na cidade de Campinas – São Paulo, buscando descentralizar o eixo da política lesbofeminista da cidade de São Paulo. Em um país de dimensões continentais onde a “modernização” heterocapitalista se concretizou de maneiras tão específicas como o Brasil, é urgente fortalecer as experiências de resistência que há no interior do estado, desconcentrando os espaços de tomada de decisão e combatendo o isolamento político e a solidão que assolam as lésbicas para além da capital. Será um espaço político autônomo, horizontal, não-institucional, não-hegemônico, crítico à branquitude, anti-colonial, anti-especista e anti-capitalista. Algumas das propostas de discussão giram em torno à nossa organização política e à construção conjunta com outros movimentos sociais. Ressaltamos ser imprescindível a luta contra a heterossexualidade enquanto um regime político algoz que sequestra nossas vidas e destrói nossas potencialidades revolucionárias enquanto sujeitas lésbicas. Um regime que nos explora nos âmbitos econômico, emocional, sexual e social. Rechaçar o lesbocídio e o lesbo-ódio que atacam e assassinam as lésbicas diariamente.

Questionamos o abuso de drogas que permeia nossa sociabilidade e nos impede de construir relações completamente saudáveis e não dependentes destas substâncias. Queremos pensar e articular coletivamente a promoção da nossa saúde plena, enquanto uma questão política para fazer frente aos processos de adoecimento resultantes da  macro-estrutura e da organização social as quais estamos inseridas. Acreditamos em formas de organização coletiva que nos permitam curar. Lutamos contra o especismo e a exploração animal, que destroem a nossa saúdade e fazem com que sejamos parte de um sistema de dominação construído e mantido por homens e sua cultura heteropatriarcal. Para além de entendermos este ponto como uma questão de saúde das lésbicas e mulheres, a transformação do modo de produção de alimentos e de como nos alimentamos representam importantes elementos de soberania e autocuidado entre nós.

Compreendemos os processos de racialização de lésbicas e a branquitude enquanto expressões de dominação que perpetuam estruturas coloniais, eugenistas e racistas. Partindo da imbricação essencial entre capitalismo, patriarcado, heterossexualidade, racismo, classismo e especismo, buscamos a descolonização de nossos corpos, mentes, práticas e saberes lesbofeministas. Queremos contruir honrizontalidade e autonomia entre lésbicas, nos debruçarmos sobre métodos de resolução de violências e conflitos internos ao movimento e criar companheirismos, abertura, confiança e espaços de auto-crítica para que possamos desenvolver ferramentas de resistência e superação da sociedade heterossexual e patriarcal. 

O I EPL está sendo construído a partir da perspectiva política da auto-gestão, portanto não utilizaremos dinheiro do Estado, instituições ou de empresas privadas que possam interferir e comprometer nossa autonomia. Portanto, o apoio de todas, mesmo que simbolicamente, se faz essencial para que possamos nos reunir e participar deste importante marco para o avanço do lesbofeminismo brasileiro. Quanto mais lésbicas organizadas e conectadas, maior a potencialidade revolucionária de nossa luta. O feminismo é a teoria, o lesbianismo é a prática. Lesbofeministas, avante!